Cada Homem É Uma Raça – Mia Couto

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    Editions:PDF (Portuguese)

    Mia Couto é um escritor sobretudo generoso. Neste livro que reúne onze contos, publicado originalmente em 1990, ele prova isso mais uma vez. Os indivíduos são sempre objeto de fascínio e a descrição de suas vidas jamais traz qualquer julgamento. Com sua escrita poética inconfundível, que resulta num português com a melodia das línguas africanas, ele apresenta um rico universo de vivências de figuras moçambicanas. Se no conto “A Rosa Caramela” acompanhamos os dissabores de uma mulher corcunda que enlouqueceu depois de ter sido abandonada ao pé do altar, em “A princesa russa” a situação é de uma estrangeira que se vê num país desconhecido e com um marido hostil, e se alia a um de seus empregados nativos para sobreviver. “A lenda da noiva e do forasteiro” e “O embondeiro que sonhava pássaros” são exemplos dos contos mágicos e exuberantes de Mia, ao passo que “O apocalipse privado do tio Geguê” e “Os mastros de Paralém” têm um cunho político mais claro.

    Excerpt:

    Inquirido sobre a sua raça, respondeu:
    — A minha raça sou eu, João Passarinheiro.
    Convidado a explicar-se, acrescentou:
    — Minha raça sou eu mesmo. A pessoa é uma humanidade individual. Cada homem é uma raça, senhor polícia.

    (Extracto das declarações do vendedor de pássaros)

    Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista e professor, e é, atualmente, biólogo e escritor. Está traduzido em diversas línguas. Entre outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como um dos doze melhores livros africanos do século xx), foi galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance O Outro Pé da Sereia. Jesusalém, o seu último romance, foi considerado um dos 20 livros de ficção mais importantes da «rentrée» literária francesa por um júri da estação radiofónica France Culture e da revista Télérama. Em 2011 venceu o Prémio Eduardo Lourenço, que se destina a premiar o forte contributo de Mia Couto para o desenvolvimento da língua portuguesa. Em 2013 foi galardoado com o Prémio Camões.

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